Alguns meses após o início da pandemia meu foco fotográfico voltou naturalmente para dentro. Impossibilitada de me conectar com novas histórias e pessoas eu virei protagonista das minhas lentes, não de uma forma direta mas nas entrelinhas de registros fotográficos que dialogam entre si. 
Assim nasceram imagens que fazem a conexão entre a efemeridade das coisas e de nós mesmos, ambos sujeitos ao tempo, aos acidentes, aos imprevistos da vida. É um paralelo que costura essas experiências e nos faz olhar mais de perto para a beleza das imperfeições que nos tornam mais humanos e próximos da natureza que nos cerca. 
Ele possui fragmentos do envelhecimento do meu pai, de nosso vínculo muito forte que aos poucos se enfraquece pela perda da sua memória. Dores, perdas, o tempo agindo em nós. O controle que escapa entre os dedos.
As imagens nos convidam a contemplar nossa própria mortalidade e provocam uma espécie de conforto, já que sabemos que toda existência compartilha do mesmo destino. Existe um reconhecimento da história através de suas marcas e cicatrizes mesmo que isto inclua sofrimento. Tudo é incompleto, incluindo o próprio Universo, tudo está em movimento constante para se tornar outra coisa ou se dissolver. 
Esse ensaio diz respeito ao minúsculo e escondido, ao efêmero: coisas tão sutis que são invisíveis.
SYLVIE MOYEN 
“ T UD O   Q U E   M U D A   A   V I D A
V E M   Q U I E T O   N O   E S C U R O ,
S E M   P R E P A R O S   D E   A V I S A R ”

G u i m a r ã e s  R o s a
" A MEMÓRIA É UMA MÁGICA NÃO DESVENDADA.
UM TRUQUE DA VIDA"
MARCELO RUBENS PAIVA

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